O prédio que abrigou a Farmácia Stellfeld por 105 anos está localizado na Praça Tiradentes (antigo Largo da Matriz) e é uma Unidade de Interesse de Preservação.
A construção levou onze meses e o prédio foi concluído em 1866. O projeto foi de Gottlied Wieland. Frederico Werneck ficou encarregado dos alicerces e o construtor Moreira ergueu as paredes. O responsável pelos trabalhos de carpintaria foi Gustavo Strobel, junto com o seu pai (o pai seria Christian Strobel?). Mais tarde Wieland, Werneck e Strobel estiveram envolvidos na obra da Santa Casa.
A construção foi acompanhada com interesse pela população que passava no local. Entre as novidades estava um sótão habitável (coisa trazida pelos imigrantes e incorporada mais tarde pelos locais). Uma outra novidade foi um corredor lateral com acesso ao fundo do terreno, devidamente camuflado por um portão. A legislação da época não permitia espaços entre os prédios no centro da cidade. Mas a novidade que mais chamou atenção foi a técnica dos Strobel. Eles montaram grandes peças da estrutura do telhado no chão, na frente da construção, onde a madeira estava empilhada. Só depois levantaram estas peças e incorporaram no prédio. Outra novidade foi o famoso relógio de sol. Ele deve ser o mais antigo relógio de sol ainda existente na cidade.
Até 1930, além da farmácia, o prédio abrigava a residência da família. Depois que deixou de ser residência, foi locada para consultórios médicos.
A farmácia no seu início tinha o nome de “Botica Alemã”. Não consegui descobrir exatamente quando mudou o nome para “Farmácia Stellfeld”, mas parece que no início da Primeira Guerra Mundial ela já ostentava este nome.
Augusto Stellfeld
Augusto Stellfeld nasceu em 1817 em Braunschweig, na época capital de um ducado independente (Ducado de Braunschweig ), que em 1871 passou a fazer parte do Império Alemão. Faleceu em Curitiba em 30 de janeiro de 1894.
Depois de concluir os estudos, participar de guerras (onde foi condecorado), em maio de 1851, aos 34 anos, migrou para o Brasil, indo parar na Colônia Dona Francisca (atual Joinville) onde era responsável pela Companhia Colonizadora de Hamburgo.
Mudou-se para Paranaguá provavelmente no final de 1853.
Em 1855 participou de exame para revalidar o seu diploma de farmacêutico na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Em 1857 mudou novamente, desta feita para Curitiba, onde montou a primeira botica da cidade, com o nome de Botica Alemã, junto à Santa Casa de Misericórdia (lembrando que a Santa Casa ainda não estava no prédio na atual Praça Rui Barbosa, mas funcionava em uma casa com dois quartos na Rua Treze de Maio).
Augusto Stellfeld tornou-se conhecido na cidade, participou da política (foi vereador e presidente da Câmara Municipal) e de diversas ações sociais.
Durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) distribuiu gratuitamente remédios para os soldados e familiares moradores de Curitiba.
Fez parte da comissão que organizou a recepção de D. Pedro II por ocasião de sua visita na cidade (1880), que mais tarde concedeu a ele o título de comendador (da Ordem da Rosa).
No dia que D. Pedro II chegou em Curitiba, 21 de maio de 1880, participou às dezenove horas de uma recepção e anotou o seguinte no seu diário: “… Entre os que se apresentaram esta noite, notei o boticário Stelfeld (sic) que reside aqui a 28 anos, …”.
Foi um personagem ilustre, que contribuiu para o desenvolvimento da cidade.
Depois da sua morte os seus familiares continuaram tocando a farmácia, abrindo inclusive algumas filiais. Em 1971 a família vendeu a farmácia para uma outra rede.
BOLETIM Informativo da Casa Romário Martins. Tiradentes: a praça verde da igreja. Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba, v. 24, n. 120, jul 1997.
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