domingo, 20 de setembro de 2015
Estátua da Mulher Nua
A estátua da “Mulher Nua”, como ficou popularmente - e adequadamente - conhecida, foi projetada por Erbo Stenzel e executada, em granito, por Humberto Cozzo.
Erbo Stenzel disse em uma entrevista: “… a mulher, que representaria a Justiça, fugindo dos padrões normais … tinha sido reservada para o Tribunal da Justiça, mas por oposição de desembargadores foi levada para trás do Palácio Iguaçu.”
Diz a lenda que as razões foram principalmente morais, uma vez que a estátua teria escandalizado os espíritos pudicos. Tendo a não concordar muito com essa versão.
Hoje ela está instalada na Praça Dezenove de Dezembro, mas ficou por muito tempo, meio que “jogada às traças”, nos fundos do Palácio Iguaçu.
A instalação da estátua, em 1972, na Praça 19 de Dezembro foi objeto de críticas. Alguns, como o próprio Stenzel, por razões estéticas. A estátua da mulher é em escala diferente da Estátua do Homem Nu e disse: “Quem a levou para ali, próxima do homem, não tem golpe de vista: a figura da mulher é bem menor do que a do homem”. Outros, usam argumentos mais, sei lá, sentimentais: defendem que ela deveria ser colocada onde foi projetada para estar.
Por mim a estátua pode ficar onde está, mesmo com a diferença de escala. Isso não me incomoda e não me impede de admirá-la. Tenho consciência que são obras separadas, que não formam um casal. O mundo está cheio de praças com estátuas em escalas diferentes, na mesma praça.
E se quiserem transferir para frente do “Palácio da Justiça”? Se for para ter uma estátua de uma mulher nua na frente do palácio, por mim tudo bem também. Agora, se for para ter a estátua da “Mulher Nua” como representação da Justiça, acho totalmente inadequado. Sem qualquer relação com moralismo. Como representação da Justiça ela não é adequada. O problema está na simbologia.
Na mitologia grega, Dice (ou Diké), filha de Zeus e Têmis, era a deusa da justiça e dos julgamentos. Era representada descalça, com os olhos bem abertos (simbolizando a busca da verdade), com uma espada na mão direita (representando a força) e na mão esquerda uma balança (simbolizando a igualdade).
Os romanos tinham a deusa Justiça (Iustitia em latim) que era a versão deles de Dice. Também era representada com a espada e a balança, mas tinha os olhos vendados (simbolizando a imparcialidade). Na versão romana a espada costumava estar em posição de descanso, podendo ser usada se necessário.
Assim, a obra de Stenzel e Cozzo parece inadequada para representar a Justiça. Não por ser de uma mulher nua. Existe várias representações da deusa da Justiça com o busto descoberto e até mesmo nua, como é o caso da pintura de 1537 chamada "Gerechtigkeit als nackte Frau mit Schwert und Waage" (Justiça como uma mulher nua com espada e balança), do pintor alemão Lucas Cranach der Ältere.
O problema está na falta da balança, da espada e, em menor grau, da venda nos olhos.
A presença dos símbolos, para o caso, é importante. Do contrário, poderíamos por na frente do Palácio da Justiça a estátua de, por exemplo, uma girafa, e dizer que ela representaria a justiça.
A obra, assim como toda a praça, faz parte do conjunto do Centro Cívico, tombado pelo Patrimônio Cultural do Paraná.
Infelizmente a estátua foi recentemente vandalizada, quando pessoas que participavam de uma manifestação chamada “Marcha das Vadias” picharam o monumento.
Referências:
FERREIRA, Elisa. Hoje eu queria ser uma mulher de pedra. Saia sem Calcinha, 9 jul. 2014. Disponível em: <http://saiasemcalcinha.com.br/hoje-eu-queria-ser-uma-mulher-de-pedra/#sthash.1s4XF8iY.fVAMbUZ2.dpbs>. Acesso em: 24 ago. 2015.
LAMAS, Aline. Mesmo com frio, mulheres tiram a blusa em Marcha das Vadias no PR. G1, 14 jul. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2012/07/mesmo-com-frio-mulheres-tiram-blusa-em-marcha-das-vadias-no-pr.html>. Acesso em: 24 ago. 2015.
O CRIADOR fala sobre a sua obra: a mulher nua ainda não está no lugar planejado. Diário da Tarde, Curitiba, 4 set. 1972, p. 3.
WIKIPEDIA. Dice. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Dice>. Acesso em: 28 ago. 2015.
WIKIPEDIA. Justiça (mitologia). Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Justiça_(mitologia)>. Acesso em: 28 ago. 2015.
WIKIPEDIA. Símbolos da Justiça. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=bibliotecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica&pagina=temis>. Acesso em: 28 ago. 2015.
WIKIPEDIA. Têmis. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Têmis>. Acesso em: 28 ago. 2015.
WIKIPEDIA. File:Gerechtigkeit-1537.jpg. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gerechtigkeit-1537.jpg>. Acesso em: 28 ago. 2015.