sábado, 9 de fevereiro de 2019

Placa comemorativa da inauguração da Catedral

Placa comemorativa da inauguração da Catedral

a entrada da Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz do Pinhais, em uma coluna no lado direito, em um canto meio escuro, esta fixada esta placa, descerrada por ocasião da inauguração. Nela está escrito:

“Inaugurada
a 7 de Setembro de 1893.
Commissão de obras
Vigario Alberto José Gonçalves
Barão do Serro Azul
Dr. José Pereira dos Santos Andrade
Comor Antonio Martins Franco
Tte. Cel. Benetido Enéas de Paula
Cao. Joim. José Bellarmino de Bittencourt
Mestre de obras
Carlos Aug: Warnecke!"

Como é possível observarmos, a placa está quebrada. Isso aconteceu no dia mesmo da inauguração, quando foi danificada a marteladas por um genro de Henrique Henning.

Heinrich Henning (ou Henrique) era um mestre-de-obras alemão, que depois de participar na construção da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá estabeleceu-se em Curitiba. Aqui trabalhou na construção da Santa Casa e do Edifício Manoel da Costa Cunha, entre outras obras.

Ao longo da construção a Catedral contou com o trabalho de diversos arquitetos responsáveis e mestres-de-obras. O Sr. Henning assumiu a construção em 1886, com parte dela já construída.

Habilidoso, de temperamento difícil e severo, mas ao mesmo tempo, dizem, companheiro dos seus colegas de trabalho. Desentendeu-se diversas vezes com o engenheiro Giovanni Lazzarini, que dizia que o mestre-de-obras, alemão luterano, não sabia “dar respeito”.

A briga entre os dois chegou a ser noticiada nos jornais da época.

Em 1890, com a construção praticamente concluída, o mestre-de-obras desentendeu-se com o vigário Alberto José Gonçalves que queria ampliar a sacristia, já praticamente pronta. O padre “acusou Henning de ter transformado a igreja num templo luterano e Henning retrucou dizendo que o projeto não era dele e que apenas havia executado o que deveria ser feito. “
Depois disso Henning deixou a obra, junto com seus auxiliares, quase todos alemães e luteranos. Não sabemos se pediu demissão ou se foi despedido. Mais tarde, não consegui precisar quando, retirou-se com sua família para o Assunguy, onde adquiriu uma propriedade.

O padre Alberto mandou fazer a placa para a inauguração da igreja e nela não estava o nome de Heinrich Henning. Razão pela qual o genro de Henning, revoltado, decidiu quebrá-la a marteladas. A justificativa do padre é que foram colocados os nomes dos participantes da última comissão de obras. Dizem, mas não sei se isso faz muito sentido, que na verdade o padre encontrou um jeito de omitir o nome de todos que defenderam o projeto de estilo gótico.

O fim – trágico – de Heinrich Henning


Em 1893, Vicente Machado da Silva Lima, no exercício da presidência do estado, abandou Curitiba indo no rumo de Castro (e mais tarde para São Paulo) pela estrada do Assunguy.
No caminho, o padre Alberto José Gonçalves (o vigário da Catedral) que fazia parte da comitiva dos fujões, teria falado de Henrique Henning para Vicente Machado, que decidiu eliminar o mestre-de-obras.

Uma outra versão diz que Hennig teria chamado Vicente Machado de covarde, quando encontraram-se na travessia do Rio Ribeira e que o padre Alberto, que estava atrasado em relação aos demais, teria encontrado-se com Henning no caminho para Cerro Azul. Henning aproveitou a oportunidade para cobrar um velha dívida da construção da catedral, tirado o padre do cavalo e dado um surra nele.

Com a derrota dos federalistas, Vicente Machado retornou ao poder em Curtiba e pediu a cabeça do ex-mestre-de-obras ao Coronel Hermógenes de Araújo, chefe político de Cerro Azul e região.
O Coronel Hermógenes contratou o matador Diamiro Furquim, pedindo que apresentasse uma prova da execução do trabalho.

Em 22 de julho de 1894, usando a desculpa de que Henning deveria apresentar-se em Curitiba por causa de um fuzil que possuía, o matador o convenceu a acompanhá-lo. No caminho o matador o executou com um tiro e o decapitou.

Vicente Machado estava hospedado na casa do Coronel Hermógenes, quando Diamiro apareceu com a cabeça de Henning, como prova de trabalho cumprindo.
Vicente Machado teria ficado apavorado e comentando que esperava que o serviço tivesse sido executado com mais discrição.

A cabeça de Henning teria sido enterrada na propriedade do Coronel Hermógenes de Araújo e o resto do corpo dele só foi encontrado pelos familiares um ano depois.

Para a defesa de Vicente Machado, ele alegava que tinha pedido a cabeça do alemão ao Coronel Hermógenes no sentido figurado, e não literal.

Encontrei em publicações antigas (de 1889 e 1891) referências de Henrique Henning como professor de arquitetura na Escola de Artes e Indústrias do Paraná. Estou desconfiado que seja a mesma pessoa, mas como nunca tinha lido antes que ele teria sido também professor, ficou a dúvida. Um assunto para pesquisas futuras.

Publicações relacionadas:
Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz do Pinhais
Santa Casa
Edifício Manoel da Costa Cunha
A casa de Vicente Machado, aquele que fugiu

Referências:

MILAN, Polliana. Assassinaram o mestre-de-obras. Gazeta do Povo, Curitiba, 28 jan. 2012. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/assassinaram-o-mestre-de-obras-217qg8b0nb5xu6ehmoczeclse/>. Acesso em: 8 fev. 2019.
O TRÁGICO fim de Henning. Gazeta do Povo, Curitiba, 28 jan. 2012. Vida e Cidadania. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/o-tragico-fim-de-henning-7ep83pjahuv9a90t5dhogijim/>. Acesso em: 8 fev. 2019.
CERRO Azul: uma história em construção [blog]. A história do alemão Henning e do Coronel Hermógenes. Cerro Azul, 30 jul. 2010. Disponível em: <http://cerazul.blogspot.com/2010/07/historia-do-alemao-henning-e-do-coronel.html>. Acesso em: 8 fev. 2019.