Sociedade Beneficente das Mercês, fundada em 19 de janeiro de 1919 por umas trinta famílias do bairro (Saporski, Varassim, Burda, Gottschild, Mann, Zanetti, Benetti, Darif, Sbalqueiro, entre outras).
O jornal “O Diário da Tarde” de 28 de dezembro de 1921 noticiou assim a inauguração da sede, que ocorreria no dia 31 de dezembro de 1921.
Sociedade B. das Mercês – Esta querida sociedade promette levar a effeito no proximo dia 31 do corrente, ás horas 20, uma bella festa, em comemoração á inauguração da sua nova séde social sita no quarteirão das Mercês.
Para essa reunião que está sendo anciosamente esperada, foi pela directoria da Sociedade Beneficiente das Mercês, organisado um sumptuoso programma, do qual consta baile e uma tombola de 4 ricos premios, cujo profucto será revertido em beneficio da mesma sociedade.
Somos gratos pelo gentil convite que recebemos assignado pelo sr. Carlos Leining Sobrinho, 1º secretario da util sociedade.
Uma época em que os bairros da cidade formavam verdadeiras comunidades e todos eles tinham o seu clube e time de futebol. As pessoas mais ou menos conheciam-se todas.
Minha esposa (Sueli Sbalqueiro Ortolan), cuja família participou da fundação da Sociedade e morava na mesma quadra do clube, frequentava os bailes no final dos anos 1960 e início de 70.
Ela conta que para ir com as amigas (sempre iam de bandinho) era necessário arranjar um rapaz (irmão, primo, amigo da família) para levá-las. Não era de bom-tom as meninas chegarem desacompanhadas no baile. Na hora da saída, o mesmo. Um rapaz acompanhava as moças até as suas casas. Outra época, outros costumes.
Fui em um baile lá. Quando vim morar em Curitiba, revalidei o meu diploma no Colégio Estadual e dediquei-me ao cursinho. Naquele ano (1973) passei o Natal em Lages e voltei para Curitiba para as aulas de revisão. No dia 31 de dezembro um amigo (Ronaldo Hermann) cujo pai tinha uma padaria a uma quadra da Sociedade, passou no meu apartamento e convocou-me para passar a virada do ano com a família dele e, além disso, iríamos ao baile na Sociedade. Depois da meia-noite fomos ao baile. Mesmo sendo meio tímido, lembro de ter dançado com uma das meninas dos Casagrande, que tinham um restaurante no outro lado da rua.
Em março daquele novo ano, outra amiga do bairro (Mirna Franzoloso), cuja família tinha um armarinho no outro lado da avenida, apresentou-me a minha futura esposa.
Sempre fui acolhido por diversas famílias do bairro e minha ligação com as Mercês foi forte desde o início.
O prédio da antiga Sociedade Beneficente das Mercês fica na Avenida Manoel Ribas (antiga Avenida Cruzeiro), esquina com a Rua Alcides Munhoz e é uma Unidade de Interesse de Preservação. Atualmente é ocupada por uma agência bancária.
Depois que divulguei a publicação em uma rede social surgiu um comentário sobre o nome da Sociedade.
Pesquisando em jornais antigos o primeiro nome que aparece (uma convocação para uma assembléia no ano da fundação) é "Sociedade Beneficente" (mantendo sempre o “das Mercês”). Depois, ao longo dos anos encontrei "Beneficente Operária", "Beneficente e Recreativa" e "Operária Beneficente e Recreativa". Fiquei com a impressão, mas não tenho certeza, que o "Operária" surgiu na época da ditadura do Estado Novo.
texto complementado em 14 nov. 2023
Referências:
